O clima de Portugal Continental

Muitas vezes olhamos para o clima de Portugal Continental de forma demasiado simplificada. No entanto, o nosso país possui uma diversidade climática excecional, que se traduz em condições ecológicas, sociais e económicas riquíssimas — das mais variadas da Europa.

Infelizmente, no ensino escolar, ainda se dá grande destaque à classificação de Köppen, um sistema global e simplificado, útil para comparar grandes regiões do planeta, mas pouco adequado para distinguir realidades climáticas locais.


🌿 Clima visto pelas plantas 

Hoje, os especialistas recorrem a métodos mais modernos que combinam variáveis meteorológicas com o comportamento da vegetação — sensível ao clima — tornando-se assim excelente indicadora das condições regionais.

Além disso, com o aumento do número de estações meteorológicas, conseguimos hoje observar e modelar o clima com muito mais detalhe, utilizando supercomputadores para simular o comportamento da atmosfera em diferentes cenários.


🗺️ Um território com condições distintas

Embora Portugal esteja incluído na chamada matriz climática mediterrânica — ou seja, invernos húmidos e verões quentes e secos, essa descrição é demasiado genérica. Eis alguns contrastes impressionantes:

  • No Gerês chove mais do que em Manaus, na Amazónia.

  • Em Mértola ou Alcoutim, chove menos do que em muitas zonas de Marrocos.

  • Chaves tem invernos gelados e verões escaldantes, enquanto Peniche mantém uma temperatura estável quase todo o ano.

  • No Algarve o "verão climático" pode durar 6 a 7 meses, enquanto no Porto dura, em média, apenas 4.

O relevo, a distância ao mar, a orientação das serras, a latitude, a altitude, a influência das massas de ar e a proximidade de sistemas oceânicos ou continentais são fatores que moldam o clima de cada região.


📊 Uma proposta mais precisa: 5 grandes regiões climáticas

Um dos trabalhos mais relevantes nesta área, desenvolvido por Maria João Alcoforado et al. (1982), propõe uma divisão climática regional com base em temperatura média anual, precipitação média anual e modelos matemáticos. Eis as 5 regiões identificadas:


1️⃣ Faixa Oceânica/Atlântica (Ex: Minho litoral e serras do norte e centro)
  • Precipitação: Elevada e distribuída ao longo do ano.

  • Temperatura: Invernos frios e Verões amenos.

  • Clima: Fresco, húmido e fortemente influenciado pelo Atlântico.


2️⃣ Faixa Pré-Oceânica (Ex: Porto, Aveiro, Coimbra )
  • Precipitação: Moderada a elevada, concentrada no outono/inverno.

  • Temperatura: Os verões são mais quentes e invernos ainda frios.

  • Clima: Transição entre clima marítimo e mediterraneo.


3️⃣ Zona Pré-Mediterrânica Interior (Ex: Trás-os-Montes, Alentejo interior)
  • Precipitação: Verão quente e seco (Maio a Setembro).

  • Temperatura: Verões muito quentes, invernos frios a muito frios.

  • Clima: Semiárido em algumas zonas; continentalização.


4️⃣ Faixa Litoral Sudoeste (Ex: Lisboa, Setúbal, Sines, Lagos)
  • Precipitação: Concentra-se entre Outubro e Abril.

  • Temperatura: Verões longos mas amenos; invernos muito suaves.

  • Clima: Tipo subtropical mediterrânico com verões amenos, sem verdadeiro inverno biológico.


5️⃣ Clima Subtropical Mediterrânico (Ex: Algarve oriental – Faro, Tavira e baixo Guadiana)
  • Precipitação: Escassa e sazonal (Outubro a Abril).

  • Temperatura: Verões extremamente quentes e longos; invernos quase inexistentes.

  • Clima: Subtropical mediterrânico com verões quente. Quente e seco, semelhante ao norte de África. Verões tórridos no baixo Guadiana.

❗ Crítica ao modelo

A principal crítica a este modelo é a pouca diferenciação entre litoral e interior nas regiões Norte e Centro. A precipitação é, por vezes, sobrevalorizada face à temperatura, o que pode mascarar importantes contrastes térmicos.

👉 Sugerimos uma subdivisão adicional no Litoral Oeste, especialmente entre Lisboa e a Figueira da Foz, onde o clima é muito semelhante ao da costa da Califórnia: ameno, húmido e com fraca amplitude térmica anual.


🌍 Conclusão

Portugal Continental é um laboratório climático natural. A sua enorme diversidade geográfica traduz-se em múltiplos microclimas, com influência direta na agricultura, biodiversidade, urbanismo, riscos e na saúde humana.

Conhecer o nosso clima regional é essencial para planear o futuro.


📚 Referência