Tempestades atlânticas
As tempestades Atlânticas são sistemas de baixa pressão não tropicais (também conhecidos como ciclones extratropicais) que se formam fora das regiões tropicais, geralmente em latitudes médias, entre os 30º e os 60º de latitude. Ao contrário dos ciclones tropicais (furacões e tufões), que se alimentam de calor e humidade dos oceanos quentes, estas tempestades desenvolvem-se em ambientes onde predominam fortes contrastes térmicos entre massas de ar quentes e frias.
São fenómenos meteorológicos complexos, frequentemente responsáveis por ventos fortes, chuva intensa, trovoadas, queda de granizo, e até neve, sobretudo durante o outono e inverno.
💨 Relação com as Correntes de Jato
As tempestades extratropicais estão intimamente ligadas às correntes de jato — zonas de ventos muito rápidos situadas a altitudes elevadas, entre os 8 e os 12 km, que circulam na fronteira entre o ar polar e o ar tropical.
Estas correntes são fundamentais para a formação e desenvolvimento destas tempestades porque:
-
Criam zonas de divergência em altitude, facilitando a subida de ar quente e húmido.
-
Permitem a propagação das perturbações atmosféricas de oeste para leste, sustentando-as.
Quando uma corrente de jato interage com uma zona de encontro de massas de ar, facilita a subida do ar quente, reduz a pressão à superfície e desencadeia a formação de um ciclone extratropical.
🌡️ De Onde Vem a Energia?
Ao contrário dos furacões, que retiram energia do calor latente libertado pela evaporação das águas tropicais, as tempestades extratropicais alimentam-se do contraste térmico horizontal entre massas de ar quentes e frias.
Este diferencial térmico provoca choque de massas de ar o que leva a movimentos verticais intensos, responsáveis pela formação de:
-
Nuvens de grande desenvolvimento vertical
-
Sistemas frontais e linhas de instabilidade
-
Chuva, neve, etc
-
E, por vezes, fenómenos convectivos mais severos, como granizo ou tornados.
🌪️ Ciclones Híbridos e Subtropicais
Por vezes, em situações particulares, um ciclone extratropical pode evoluir e adquirir algumas características tropicais. Nascem assim os ciclones subtropicais ou híbridos. Estes sistemas partilham propriedades de ambos os tipos:
-
Têm um núcleo parcialmente quente
-
Mantêm alguma estrutura frontal típica dos sistemas extratropicais
-
E podem ganhar intensidade ao passar sobre águas relativamente quentes
Em alguns casos raros, podem até transformar-se em verdadeiros ciclones tropicais.
⚠️ Ciclogénese Explosiva: A “Bomba Meteorológica”
A ciclogénese explosiva é um fenómeno extremo no qual a pressão no centro de uma tempestade extratropical desce pelo menos 24 hPa num período de 24 horas.
Condições ideais para este fenómeno:
-
Encontro directo entre massa de ar quente e húmido e massa de ar frio e seco
-
Aproximação de uma corrente de jato em altitude, criando divergência e sucção de ar quente das camadas inferiores
-
Ar muito frio nos níveis superiores da troposfera, aumentando o gradiente de temperatura vertical e favorecendo instabilidade atmosférica severa
As ciclogéneses explosivas são conhecidas por gerar:
-
Vento com rajadas severas
-
Chuva intensa e inundações
-
Mar muito agitado
-
Trovoadas
-
E, por vezes, fenómenos convectivos como trombas de água e granizo
🌍 Onde e Quando Ocorrem?
As regiões mais propícias a tempestades extratropicais e ciclogénese explosiva incluem:
-
O Atlântico Norte, ao largo da costa leste dos EUA e Canadá, onde o ar frio do Canadá colide frequentemente com o ar tropical aquecido pela Corrente do Golfo
-
O Mar do Norte e Ilhas Britânicas
-
A costa da Noruega
-
Algumas zonas do Pacífico Norte e também dos oceanos austrais
Na Europa Ocidental, este tipo de tempestade é relativamente frequente, ocorrendo pelo menos algumas vezes por cada inverno. Em Portugal continental, há registo de algumas situações de ciclogénese explosiva por década, geralmente entre novembro e março, quando o Atlântico está mais quente e as massas de ar polares descem em latitude.
Exemplos históricos incluem a tempestade do Oeste (2010) e a tempestade Gong (2013).
📉 Impactos no Clima e na Sociedade
As tempestades extratropicais são fenómenos meteorológicos importantes porque:
-
Influenciam a distribuição da precipitação nas latitudes médias
-
Determinam períodos de seca ou de chuva intensa
-
Afetam a navegação marítima e a aviação
-
Geram danos materiais e humanos quando associadas a ventos de temporal e inundações rápidas
Com o aquecimento global, as projeções sugerem alterações na frequência e intensidade destas tempestades, sobretudo devido à diminuição do gradiente térmico entre o polo e o equador e à deslocação das correntes de jato.
Há o potencial de se tornarem mais estacionárias, o que aumenta de forma significativa o risco associado.